domingo, 1 de novembro de 2009

Cabanagem (1834-40)

Ao iniciar-se o século XIX, a Amazônia estava dividida entre duas capitanias: a do Grão-Pará, com sede em Belém, e a do Rio Negro, subordinada àquela e com sede em Barcelos (AM). A capitania do Grã-Pará era a mais desenvolvida. Sua economia baseava-se no extrativismo das drogas do sertão e de madeira. Alguns latifúndios no interior que produziam cacau e arroz utilizavam basicamente a mão-de-obra de indígenas aldeados. O número de escravos negros era pequeno. Os comerciantes portugueses controlavam o comércio e a economia local. Uma grande população miserável de mestiços, brancos pobres e indígenas destribalizados habitavam palafitas sobre os rios e igarapés e eram chamados de cabanos.

Com a Revolução Liberal do Porto, o governo do Grão-Pará obedecia a Lisboa e não ao governo do Rio de Janeiro. Proclamada a independência, a junta de governo permaneceu fiel ao governo de Lisboa. Alguns liberais radicais, como o cônego Batista Campos, mobilizaram a população para lutar pela independência. A junta ficou isolada em Belém, o que facilitou o domínio pelo mercenário Greenfell, a serviço do império. Vencida a junta portuguesa, o povo apoiado por parte das tropas exigiu a formação de um governo popular. Greenfell recusou-se e passou a perseguir aqueles que haviam lutado para se tornar independentes de Portugal e do governo do Rio de Janeiro. Portugueses e partidários da independência foram massacrados pelo almirante inglês.

Com a partida de Greenfell, o poder em Belém ficou nas mãos de políticos conservadores ligados aos comerciantes portugueses. Para as massas populares do Pará, a independência não alterou em nada a situação. A miséria e as péssimas condições de vida eram as mesmas do período anterior à independência. Em todo o Primeiro Reinado, o Pará foi marcado por uma série de levantes populares no interior e em Belém. Esses movimentos opunham-se às autoridades locais e ao poder central. Com o início da regência, as agitações que atingiram todo o país foram mais intensas no Grão-Pará.

O presidente da província, Lobo de Sousa, tomou várias medidas repressivas contra os setores populares. Prendia insurretos e fazia recrutamento militar intensivo para as forças armadas, mandando pessoas incômodas para regiões distantes nas fronteiras. Na capital e no interior, entre as camadas populares rurais e urbanas, preparava-se um levante armado contra o governador. Na madrugada de 7 de janeiro de 1834, os revoltosos tomaram o poder em Belém e fuzilaram o presidente da província e outros membros do governo.

Os cabanos formaram um governo chefiado pelo grande proprietário rural Clemente Malcher, que jurou lealdade ao império, dizendo que ficaria no poder apenas até a maioridade do imperador.

Logo começaram as divergências entre o governador e os cabanos mais radicais, que queriam reformas sociais, tais como: fim da escravidão; melhoria de condições de vida das camadas populares; distribuição de terras. Como grande proprietário, Malcher não podia aceitar o extremismo dos ex-parceiros. O governador chegou mesmo a pedir ajuda à esquadra do império para conter agitações dos radicais. Os cabanos radicalizaram. Depuseram e executaram o governador, a 19 de fevereiro de 1834. O novo presidente da província passou a ser Francisco Vinagre. A radicalização dos cabanos assustou as classes dominantes da região, principalmente os grandes comerciantes de Belém, que pediram ajuda ao governo central. As novas tropas enviadas à província derrotaram os revoltosos na capital e os obrigaram a se retirar para o interior, onde conseguiram levantar as massas rurais e marchar para a capital, retomando o poder.

O jovem líder radical Eduardo Angelim assumiu o governo e proclamou a república, separando-a do resto do império. Em abril de 1836, novas tropas do governo central desembarcaram em Belém. Derrotados na capital, os cabanos retiraram-se para o interior, onde não puderam oferecer resistência às tropas do governo, infinitamente superiores. Os cabanos foram massacrados, mas até 1840 ainda se manifestavam esporadicamente na região, em movimentos isolados sem importância. A partir de então, com o fim da regência, e com a repressão aos revoltosos, a região foi totalmente “pacificada”.

A Cabanagem foi a mais importante revolta do império, pois foi a única em que as camadas populares conseguiram tomar o poder e mantê-lo de forma estável por algum período. Não foi apenas uma revolta política contra os governos impostos pelo poder central, mas uma verdadeira revolução social, na qual as camadas populares ousaram levantar-se contra as classes dominantes regionais.

4 comentários:

  1. Minha professora fez um trabalho sobre a cabanagem e esse site foi muito impotante pra o meu trabalho .

    muito obrigado pela ajuda :)

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  2. Gostaria de sugerir algumas outras lutas brasileiras que se inserem no contexto de luta pela terra para serem estudadas pelo blog:
    - Canudos
    - Contestado
    - Ligas Camponesas
    Ótimo trabalho o de vocês!

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  3. Sou Paraense.
    parabenizo o site pela pesquisa acima.
    minha tristeza fica o meu estado, pois apesar de possuirmos um movimento tão formidável como a Cabanagem, pouco se fez pela preservação da memória do mesmo. Não possuímos um museu sequer ou identificação de locais envolvidos na luta.

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