domingo, 1 de novembro de 2009

Processo de Galileu Galilei

O personagem da historia que me chamou a atenção foi Galileu Galilei, devido às versões diferentes a respeito do mesmo caso, por isto decidi pesquisá-lo.

Entende-se que um processo ou uma pessoa nunca devem ser analisados isoladamente. É necessário que haja um processo de contextualização histórica dos mesmos dentro dos paradigmas econômicos, sociais, culturais, políticos e religiosos. Por se tratar de Galileu Galilei, esse processo se torna essencial para chegar-se à verdadeira hermenêutica.

Inicialmente, para que haja uma boa compreensão do momento histórico, será enfatizado o quadro econômico referente alguns séculos anteriores ao nascimento de Galileu. Com o término das Cruzadas do século XIII houve uma alteração profunda no quadro econômico, o que provocou a reabertura do mar Mediterrâneo e consecutivamente o Renascimento Urbano e Comercial. O comércio desenvolvido nesse período era dominado por importantes cidades portuárias italianas, destacando-se Gênova e Veneza, que controlavam a ligação da Europa ocidental com os principais centros comerciais do Oriente Próximo, como Alexandria e Antioquia, além de Constantinopla, capital do Império Bizantino.

Já o século XIV ficou marcado pela Guerra dos 100 Anos, associada à peste negra e à fome que dizimou um terço da população européia. Isto afetou não apenas a economia feudal, já decadente, mas também o dinâmico comércio mediterrâneo, verificando-se aí, o que se convencionou chamar na História de "crise de retração" do comércio europeu.

No século XV, fala-se numa "crise de desenvolvimento", devido a escassez monetária. Havia a necessidade de novos mercados para o comércio europeu. Nesse sentido, a expansão Marítima poderia reativar o comércio da Europa ocidental com o Oriente, quebrando o monopólio italiano nessa região, além de poder representar um afluxo de metais preciosos, obtidos através do comércio ou da exploração de jazidas descobertas.

Na esfera social, destaca-se a projeção da burguesia, que desenvolveu-se enquanto classe, com o próprio crescimento do comércio monetário. Numa economia que tendia cada vez mais para o caráter comercial e urbano, era importante a padronização monetária, como também a centralização da defesa militar e elaboração de leis nacionais. A burguesia assim, alia-se aos reis, que diante da crise do feudalismo, concentram cada vez mais, poderes em suas mãos, resultando na formação das Monarquias Nacionais. A primeira foi Portugal.

A formação desses Estados Nacionais, marcou a estrutura de poder nesse período de transição e a aliança entre rei e burguesia, apesar de conjuntural, estava muito bem definida. Para burguesia, este Estado com poder centralizado era de fundamental importância, pois além de possibilitar a padronização monetária e a criação de leis e exércitos nacionais, representava uma importante retaguarda para os empreendimentos, tanto no estabelecimento do protecionismo alfandegário, como para conquistar militarmente outros mercados. Já para os soberanos, era importante estar ao lado da burguesia, pois esta representava a iniciativa privada para o comércio, que ampliado, proporcionaria uma maior arrecadação de impostos e o conseqüente fortalecimento do poder real.

Mas afinal onde ficaria a arte, a cultura e a ciência dentro deste processo de transição? Teria ficado a parte do desenvolvimento? Logicamente, não. A arte reflete o momento histórico presente, e o artista projeta suas obras através dos valores, da moral e da ética presente no seu período.

Nesta transição surge um novo homem. O homem dos centros urbanos, mais crítico e sensível, representando uma visão antropocêntrica e racionalista, resgatada da antigüidade greco-romana. Esta chocava-se com a postura teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade Média.

Os séculos XIV e XVI traz personalidades geniais e revolucionárias em todas as esferas do conhecimento. Por exemplo, Leonardo da Vinci, Dante Allighieri, Michelangelo, Galileu Galilei, Erasmo de Roterdã, William Shakespeare, entre outros. Nestes séculos houve considerados avanços técnicos no aprimoramento da construção naval (naus e caravelas), além do desenvolvimento da Cartografia, Geografia, Física e Astronomia.(Gamow, 1963)

O Humanismo ou Renascimento do século XVI afirmou os valores do homem em termos ora mais, ora menos autônomos. No início do século XVII, os sintomas de mentalidade leiga, mesmo atéia, já eram tantos que começaram a inquietar os ânimos tradicionais.

No âmbito religioso, em especial no século XVI, acontece uma grande e importante cisão do cristianismo ocidental. Nasce o protestantismo, iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.

O presente trabalho não tem como questão principal a Reforma. No entanto torna-se importante destacar alguns pontos referentes a esta para o melhor entendimento do processo de Galileu. Indubitavelmente, as correntes humanistas favoreceram o processo de reformas religiosas. O escrito de Lutero “À Nobreza Cristã de Nação Alemã” foi recebido pelos humanistas como uma manifestação de apoio às suas lutas. As reformas no sistema universitário exigidas pelos humanistas fortaleceu a reforma da igreja, pois, na Alemanha, essa modificação partiu dos adeptos da nova fé, favorecendo em muito a formação de novos clérigos.(Dreher, 1996).

O Renascimento, por sua vez, tendo como princípio o retorno à Antiguidade clássica, favoreceu o estudo das línguas grega e hebraica, retornando também às fontes da Antiguidade cristã.(Dreher, 1996).

A Reforma Protestante teve seu êxito graças ao Reis e príncipes que usaram Lutero para alcançar seus objetivos. Quais seriam seus objetivos?

Com a burguesia em ascensão, necessitava-se de uma moral cristã que ao invés de condenar, pudesse estimular o acúmulo de capital. A Igreja Católica condenava a cobrança de juros. Considerava isto uma usura, uma pratica pecaminosa. Claro que esta postura estava longe de refletir uma crítica de princípios.

A Igreja Católica era totalmente hegemônica sobre a cristandade ocidental, através de sua hierarquia pesada, com total obediência ao Bispo Romano, situação esta que incomodava os Reis. Mas como a proposta da reforma era romper com o dizimo, penitência e principalmente com as vendas das indulgências, era de total interesse dos reis e príncipes romper com estes mecanismos que atrasava o desenvolvimento do capital.

A reforma protestante acontece e se espalha por vários paises europeus, através de Lutero, que é o mais conhecido entre os reformadores, mas podemos ressaltar outros personagens como Calvino, Zwinglio e Müntzer que contribuíram para propagar esta nova doutrina. (Dreher,1996).

A Igreja Católica realiza o Concílio de Trento(1545-1563) em busca da renovação tão desejada no seu interior, por dois motivos: pelo avanço do protestantismo e por já se encontrar em processo de renovação. (Matos,1997)

O Concílio de Trento foi um dos concílios mais contubardos e importantes da história do Cristianismo, onde fixou a doutrina da fé católica mostrando as diferenças entre catolicismo e protestantismo. Traçou uma linha divisória entre ortodoxia e heresia. Não menos importantes foram os numerosos decretos disciplinares. Houve criação de seminários para uma formação espiritual e intelectual para futuros sacerdotes e outras medidas.(Matos,1997)

Todos estes fatos estão relacionados ao começo do período moderno, cuja mudança de mentalidade em todas as esferas da sociedade aconteceu naturalmente.

A humanidade que assim pensava ter atingido a idade adulta, julgava que, para o futuro, poderia dispensar a “tutela de Deus”. Ao lado dos que, nos termos atrás se entusiasmavam por uma ciência quase absoluta, havia os céticos, representados principalmente por Michel de Montaigne (1533´1592), que não menos perigosamente corroíam as tradicionais concepções cristãs. Montaigne peregrinava pelos grandes santuários da Europa, mas, como dizia um seu contemporâneo, o Pe. Garasse S.J., “sufocava suavemente, como que com um cordel de seda, o senso religioso”, mediante as suas proposições ambíguas.( Bettencourt,1986)

Diante dessas novas correntes de pensamento, que atitude tomavam as autoridades eclesiásticas? Nos casos de flagrante impiedade e ateísmo, reagiam fortemente, desconfiando da nova ciência, movidas pelo desejo de preservar sua verdade e os valores de sua cultura (daí a sua reação contra Campanella, Tanini, Teófilo de Viau ...). Quando, porém, a contestação era habilmente dissimulada por seus autores, parece que os eclesiásticos não avaliavam plenamente a gravidade do perigo; Montaigne, por exemplo, submeteu, com todos os sinais de respeito, suas obras aos censores eclesiásticos. Estes, em resposta delicada Ihe pediram que em consciência tratasse de retocar o que julgasse dever retocar! ... Estas reações são sintomáticas, pois revelam bem um período de transição e incertezas em que os pensadores (tanto os tradicionais como os inovadores) ainda não vêem plenamente o significado de valores novos que vão surgindo no cenário da civilização. Os erros eram bem possíveis, tanto da parte dos inovadores como da parte dos tradicionais, antes de se chegar a justa assimilação dos elementos em causa ou a incorporação dos elementos novos na síntese antiga. (Bettencourt,1986)

Assim, foi precisamente num ambiente de certa reação contra a fé, reação encabeçada por uma ciência aparente, que deu-se o desenvolvimento do processo de Galileu Galilei (1564´1642).(Bettencourt,1986)

Este processo foi divido em duas fases:

A primeira:

O sistema geocêntrico de Ptolomeu († 150 d.C.) estivera em vigor durante toda a Idade Média, quando em 1543 o cônego Nicolau Copérnico publicou o livro “De revolutionibus orbium caelestium”, em que sugeria outra concepção: a Terra e os demais planetas giram em torno do sol. A obra foi dedicada ao Papa Paulo III, que a aceitou sem contradição. Os doze Pontífices Romanos subseqüentes não se mostraram em absoluto infensos a Copérnico. Verdade é que, por falta de provas seguras, ninguém atribuia grande verossimilhança à nova teoria. Quando, porém, Galileu entrou no cenário da história, esta mudou notavelmente de face. Galileu, depois de ter aderido ao sistema ptolomaico, a partir de 1610 professou as idéias de Copérnico, baseadas sobre observações de astronomia recém realizadas. Com isto mereceu numerosos elogios, principalmente por parte dos jesuítas (Clavius, Griemberger e outros), que o nomeu como “um dos mais célebres e felizes astrônomos do seu tempo”.

Em março de 1611, tendo ido a Roma (era natural de Pisa), foi recebido pelo Papa Paulo V em audiência particular. Prelados e príncipes pediram-lhe que explicasse as maravilhas que havia descoberto. O Cardeal Del Monte em carta ao Grão´Duque de Florença atestava: “Galileu convenceu cabalmente da veracidade de suas descobertas todos os intelectuais de Roma.(Bettencourt, 1986)

Até essa época Galileu se mantivera exclusivamente no campo da astronomia. Era inevitável, porém, que entrasse no da Teologia. Com efeito, havia quem desconfiasse das teses de Galileu e o quisesse impugnar em nome de textos bíblicos, como SI 103,4; Js 10, 12´14; Ecl 1,4´6. Foi o que fez Ludovico delle Colombe. Galileu defendeu-se em carta a seu discípulo Benedetto Castelli O.S.B., fazendo considerações escriturísticas que foram posteriormente ratificadas pelos exegetas e até hoje conservam seu pleno valor na Igreja:

“A Sagrada Escritura não pode nem mentir nem se enganar. A veracidade das suas palavras é absoluta e inatacável. Aqueles, porém, que a explicam e interpretam, podem se enganar de diversas maneiras. Cometer-se-iam funestos e numerosos erros se se quisesse sempre seguir o sentido literal das palavras; chegaríamos a contradições grosseiras, erros, doutrinas ímpias, porque seríamos forçados a dizer que Deus tem pés, mãos, olhos, etc... Em questões de ciências naturais, a Sagrada Escritura deveria ocupar o último lugar A S. Escritura e a natureza provém ambas da Palavra de Deus; aquela foi inspirada pelo Espirito Santo, esta executa fielmente as leis estabelecidas por Deus. Mas, ao passo que a Bíblia, acomodando-se à compreensão do comum dos homens, fala em muitos casos, e com razão, conforme as aparências, e usa de termos que não são destinados a exprimir a verdade absoluta, a natureza se conforma rigorosa e Invariavelmente às leis que Ihe foram dadas; não se pode, pois, em nome da S. Escritura, pôr em dúvida um resultado manifesto adquirido por maduras observações ou por provas suficientes... O Espírito Santo não quis ensinar-nos se o céu está em movimento ou se é imóvel; se tem forma de globo ou forma de disco; se ele ou a terra se move ou permanece em repouso... Já que o Espírito Santo não intencionou instruir-nos a respeito dessas coisas, porque isto não importava aos seus designos, que são a salvação das nossas almas, como se pode, agora, pretender que é necessário sustentar nesses assuntos tal ou tal opinião, que uma é de fé e a outra é errônea ? Uma opinião que não diz respeito a salvação da alma, poderá ser herética?” (Favaro, opere V 279´288)

Apesar do discurso de Galileu ter sido preenchido por palavras sábias e reais, muitos membros da Hierarquia católica não compreenderam isso, analisando com idéias que continham fundo Luterano. Notaram uma certa liberdade na interpretação dos trechos bíblicos, caindo no “livre exame da bíblia”. A partir deste discurso, o Santo Oficio interviu através de uma comissão de teólogos, que examinaram as teses do heliocentrismo de Copérnico. Acabou por dar o parecer contrário as mesmas. Em 24 de fevereiro de 1616; em conseqüência, o Santo Ofício comunicou a Galileu a ordem de “abandonar por inteiro a opinião que pretende que o sol é o centro do mundo e imóvel, e que a terra se move”, assim proibiu que “sustentasse essa opinião como quer que fosse, a ensinasse ou defendesse por palavras ou por escritos, sob pena de ser processado pelo S. oficio” (Favaro, Galileu e Inquisizione 62).

O astrônomo aceitou a intimação. Em conseqüência, 5 de março de 1616 a Congregação do índice condenou as obras que defendiam a doutrina de Copérnico, até que fossem corrigidas, sem mencionar em absoluto o nome de Galileu. O processo do S. oficio fora secreto e o sábio astrônomo voltou para Florença a fim de continuar seus estudos, plenamente prestigiado pela Santa Sé. Assim termina a primeira fase.

Segunda Fase:

Continuou estudando astronomia, mas não podia defender o Heliocentrismo. Porém depois de alguns anos voltou a escrever sobre o assunto, mais com todo um cuidado especial. Em 1623 chegou a publicar o escrito II Saggiatore. Este opúsculo, ofertado ao novo Papa, Urbano VIII, amigo pessoal de Galileu (ambos eram poetas), foi aceito e lido com prazer pelo Pontífice. O Cardeal Hohenzollern, por essa ocasião, pediu mesmo a Sua Santidade que se pronunciasse em favor do heliocentrismo. Urbano VIII respondeu que esta doutrina jamais fora condenada como herética e que pessoalmente ele nunca a mandaria condenar, embora a considerasse bastante ousada.

Galileu pôs-se a escrever nova obra em favor do copernicismo: O célebre “Diálogo dei due Massimi Sistemi”. Contudo, foi submetido à censura eclesiástica. Esta Ihe concedeu o Imprimatur com a condição de defender o heliocentrismo não como tese certa, mas como hipótese. Galileu, porém, não o fez. Em 1632 publicou o livro defendendo uma tese certa incluindo a aprovação dos censores de Roma e Florença! Este gesto causou grande agitação em Roma.O astrônomo deixava naturalmente de gozar da confiança da autoridade eclesiástica.

Em 12 de abril de 1633 iniciava-se o processo contra Galileu. Galileu, possuindo muitos privilégios junto à cúria, em vez de ocupar uma cela, residia no apartamento do procurador fiscal, uma espécie de hospedaria do palácio do Santo Ofício, providência de excepcional deferência para um acusado de exceção.

Durante o processo, o comportamento do papa foi aparentemente parcial. Em vez de ter deixado o inquérito seguir seu curso normal junto ao Santo Ofício, chamou para si a instrução, ocultou as denúncias e nada deixou transparecer além da suspeita para justificar o processo, pois queria livra-lo de uma condenação grave.

O cientista pronunciou diante do Tribunal da Inquisição assim:

“Eu, Galileu, filho do falecido Vincenzo Galilei, florentino, de setenta anos de idade, intimado pessoalmente à presença deste tribunal e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais Inquisidores-Gerais contra a gravidade herética em toda a comunidade cristã, tendo diante dos olhos e tocando com as mãos os Santos Evangelhos, juro que sempre acreditei, que acredito, e, mercê de Deus, acreditarei no futuro, em tudo quanto é defendido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e Apostólica. Mas, considerando que (... ) escrevi e imprimi um livro no qual discuto a nova doutrina (o heliocentrismo) já condenada e aduzo argumentos de grande força em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para eles, fui, pelo Santo Oficio, acusado de veementemente suspeito de heresia, isto é, de haver sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a Terra não está no centro, mas se move; desejando eliminar do espírito de Vossas Eminências e de todos os cristãos fiéis essa veemente suspeita concebida mui justamente contra mim, com sinceridade e fé verdadeira, abjuro, amaldiçôo e detesto os citados erros e heresias, e em geral qualquer outro erro, heresia e seita contrários à Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi nem afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal suspeita a meu respeito."

No dia 22 de junho de 1633. Numa sala do convento dominicano de Santa Maria Sopra Minerva, em Roma, encerrava-se um dos episódios mais discutidos da história. Galileu era considerado culpado, teve que abjurar publicamente o heliocentrismo(ao término da qual, segundo contam alguns, Galileu teria murmurado ironicamente: "eppur si muove" - "e, no entanto, ela se move") e foi condenado a prisão perpétua, mas por ordem do papa, em vez de ser encarcerado nas celas do palácio do Santo Ofício, pôde imediatamente instalar-se na residência do embaixador e em seguida cumprir a pena sob a forma de prisão domiciliar em sua casa de Arcetri, "a jóia".

Suas obras foram incluídas no Index dos livros proibidos pela Igreja, juntamente com as de Kepler e Copérnico. Tais publicações seriam liberadas somente em 1822, mas as idéias que defendiam divulgaram-se.( Redondi,1991)

É necessário salientar que não foi somente pelos católicos que a tese de Galileu foi condenada, mas também pelos protestantes. Veja a seguir:

Lutero julgava que as idéias de Copérnico eram idéias de louco, que tornavam confusa a astronomia. Melancton, companheiro de Lutero, declarava que tal sistema era fantasmagoria e significava a rebordosa das ciências. Kepler (1581´1630), astrônomo protestante contemporâneo de Galileu, teve que deixar a sua terra, o Wurttemberg, por causa de suas idéias copérnicianas. Em 1659, o Superintendente Geral de Wittenberg, Calovius, proclamava altamente que a razão se deve calar quando a Escritura falou; verificava com prazer que os teólogos protestantes, até o último, rejeitavam a teoria de que a Terra se move. Em 1662, a Faculdade de Teologia protestante da Universidade de Estrasburgo afirmou estar o sistema de Copérnico em contradição com a Sagrada Escritura. Em 1679, a Faculdade de Teologia protestante de Upsala (Suécia) condenou Nils Celsius por ter defendido o sistema de Copérnico. Ainda no século XVIII a oposição luterana contra o sistema de Copérnico era forte: em 1744 o pastor Kohlreiff, de Ratzeburg, pregava energicamente que a teoria do heliocentrismo era abominável invenção do diabo.( Bettencourt,1986)

Enfim, acreditando que a melhor maneira de analisar-se um fato do passado é tentar entrar no contexto que envolve tal fato, foi que se escolheu as referidas referências bibliográficas a fim de que se fizesse uma leitura a respeito do pensamento da época. Diante disso, foi possível perceber que, mesmo com a abertura de mentalidade vivenciada no período moderno, era de grande dificuldade para um cristão assumir as mentalidades dos séculos XVI/XVII, admitindo o heliocentrismo que rompia totalmente com paradigma estabelecido a séculos.

O Cristianismo hoje reconhece o grande erro cometido contra Galileu Galilei, e sua grande contribuição para ciência. Permite a generalização das leis empíricas, as dezenas de invenções e o desenvolvimento da ciência moderna, através da nova maneira de interpretar os fatos. Inegavelmente todos esses fatos são devidos à coragem que Galileu teve de abrir novos paradigmas. Viva Galileu!!!



Referencia Bibliográfica:




BETTENCOURT, Estevão Tavares. Curso de Historia da Igreja. Rio de Janeiro. Ed. Lumen Christi 1986.


DREHER, Martin N. A crise e renovação da Igreja no período da Reforma. São Leopoldo, Ed. Sinodal,1996.

ÉVORA, Fátima R. R. A Revolução Copernicano-Galileana. Campinas, Unicamp, Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, 1993. Dois volumes: vol.1(Astronomia e Cosmologia Pré-Galileana); vol 2 (A Revolução Galileana)

GAMOW, George. Biografia da Física.Rio de Janeiro, Biblioteca de Cultura Científica, 1963.

MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à historia da Igreja. Belo Horizonte, Ed. Lutador, 1997. Vol 2

REDONDI, Pietro. Galileu Herético. São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 1991.

Prof. Thiago Legnani

4 comentários:

  1. Primeiro artigo que li que trata a inquisicao sem preconceitos e avaliando o contexto historico. parabens!!!

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  2. galileu nao era contra a fe, ele era religioso ate. Ele apenas buscava a razao atravaz da ciencia, da matematica, filosofia.

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  3. muito bom, ajudou bastante eu fazer o trabalho de historia sobre galileu

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