domingo, 14 de agosto de 2011

Revolução Praieira

No período imperial o Brasil era um Estado Nacional recém-formado e conservador. Esse conservadorismo se destacava inclusive na América Latina, sendo o único Estado monarquista.
Em nome desse conservadorismo, predominava no Brasil o voto censitário, sendo que a Constituição de 1824 até era apelidada de Constituição da Mandioca.
A escravidão era uma realidade latente na sociedade, mesmo com os movimentos abolicionistas ganharem força no segundo império. Um país em que a escravidão era legal o racismo também não tinha condenação, sendo algo cultural.
O Unitarismo, presente na Constituição dava ênfase ao poder centralizado, o que beneficiava a região envolta da capital Rio de Janeiro e desmotivava a vida política nas províncias longínquas. Não é a toa que hoje, regiões mais distantes do sudeste ainda precisam de uma maior estruturação por parte do Estado.
A superioridade dos homens sobre as mulheres era um ideal presente no seio da sociedade, encravado na cultura brasileira, inclusive e principalmente nas classes mais elitizadas.
A presença de latifúndio foi uma herança do período colonial, não havendo nenhuma política de reforma agrária na independência. Só o fato de haver latifúndio já se conclui que o Brasil era um país onde a concentração de renda era algo comum.
Por último, o ideal de religiosidade católica era presente na Constituição. Só poderia ter altos cargos públicos e ser político quem fosse católico. Havia um preconceito exagerado com outras denominações cristãs e praticamente uma criminalização para religiões não-cristãs (islamismo, religiões espiritualistas, pagãs, orientais e afros).
Podemos resumir que um bom cidadão no Império brasileiro seria um latifundiário, dono de escravos, branco, rico, político, católico, conservador e monarquista.
Diante dessa sociedade estoura em 1848 em Recife a Revolução Praieira, que tinha esse nome porque a sede do jornal comandado pelos liberais revoltosos se localizava na rua da Praia. Particularmente, defendo ser a revolução mais completa do Brasil, devido à situação de seu tempo (contexto) e suas reivindicações.
Os revoltosos eram contra o excesso de poder do Rio de Janeiro, visto que os cafeicultores de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro manipulavam D. Pedro II a satisfazer seus interesses político e econômico. Isto é, defendiam o Federalismo em detrimento do Unitarismo .
Os praieiros ainda queriam que os comerciantes estrangeiros fossem expulsos do Brasil e que os brasileiros tivessem mais acesso a emprego. Na época, emprego era na zona rural submetido aos latifundiários ou sendo explorado no pequeno comércio por estrangeiros, principalmente portugueses. Salienta-se ainda que não existia direito trabalhista.
Os praieiros lançaram panfletos exigindo sufrágio universal, afinal, a Constituição de 1824 estabelecia voto indireto, censitário e oral.
Queriam a extinção do poder moderador, que era um quarto poder que tinha força de controlar os poderes executivo, legislativo e judiciário, sendo o próprio imperador.
Defendiam a liberdade de imprensa, numa época em que a imprensa brasileira era minúscula, porém muito censurada pelo governo imperial.
Exigiam ainda o fim da escravidão e até reforma agrária, sendo essa última necessidade do Brasil atual. Essas questões mexiam diretamente na estrutura da sociedade da época, pois como já dito, a base da sociedade brasileira era o latifúndio e a escravidão.
O governo imperial agiu com brutalidade. Houve mortes e os líderes condenados à prisão perpétua.
O Unitarismo permaneceu até a o nascimento da república em 1889. A escravidão foi abolida em 1888. O poder moderador foi abolido na Constituição de 1891, bem como adotado o ideal de laicismo por parte do Estado. A superioridade do homem sobre a mulher e o racismo foram condenados em lei há pouco tempo no Brasil, bem como a liberdade de imprensa. Já a presença de latifúndio caminha para uma questão sem definição, mesmo o Brasil tendo um governo de centro-esquerda desde 2003.

Prof. Yuri Almeida

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