terça-feira, 3 de novembro de 2009

Kierkegaard, Søren Aabye


Kierkeggard (5 de Maio de 1813 - 11 de Novembro de 1855) foi um teólogo e um filósofo dinamarquês do século XIX, que é conhecido por ser o "pai" do existencialismo, embora algumas novas pesquisas mostrem que isso pode ser uma conexão mais difícil do que fora, previamente, pensado.

Filosoficamente, ele fez a ponte entre a filosofia hegeliana e aquilo que se tornaria no Existencialismo. Kierkegaard rejeitou a filosofia hegeliana do seu tempo e aquilo que ele viu como o formalismo vácuo da Igreja luterana dinamarquesa. Muitas das suas obras lidam com problemas religiosos tais como a natureza da fé, a instituição da fé cristã, e ética cristã e teologia. Por causa disto, a obra de Kierkegaard é, algumas vezes, caracterizada como Existencialismo Cristão (em oposição ao existencialismo de Jean-Paul Sartre ou ao Proto-existencialismo de Friedrich Nietzsche, ambos derivados de uma forte base ateística). Apaixonado teólogo dinamarquês do século XIX, Kierkegaard ficou no esquecimento durante três gerações, até que foi redescoberto como grande místico cristão, pregador de nova fé e fundador da tão discutida filosofia do existencialismo. Até o século XX (1937, cento e vinte anos depois de seu nascimento) não se fizera uma tradução inglesa de suas obras, e o público em geral não sabia nada dele. Na década de 40 foi aclamado como “o intérprete mais profundo da psicologia da vida religiosa desde Santo Agostinho”, como profeta que predisse a crise que se seguiria à tirania militarista, ao desprezo do ditador pelo indivíduo, à crueldade da terrível mentalidade de rebanho e à “bancarrota total para a qual parece precipitar-se toda a Europa”.

A obra de Kierkegaard é de difícil interpretação, uma vez que ele escreveu a maioria das suas obras sob vários pseudônimos, e muitas vezes esses pseudo-autores comentam os trabalhos de pseudo-autores anteriores. Ao Conceito da Ironia, que foi a sua dissertação para obter o grau de professor, seguiu-se Ou isto ou aquilo (Enten-Eller), que apareceu assinado por Victor Eremitus. Temor e tremor, a que chamou de “lírica dialética”, veio à luz com o pseudônimo de Johannes de Silentio. O nome do autor de O Conceito do Temor, que aparece à frente da obra, é Virgilius Haufniesis. O pseudônimo de Etapas do Caminho da Vida é Hilarius Bookbinder. Escreveu outros livros sob Johannes Climacus, Inter et Inter, Frater Taciturnus, H.H., Constantin Constantius.

Kierkegaard é um dos raros autores cuja vida exerceu profunda influência no desenvolvimento da obra. As inquietações e angústias que o acompanharam estão expressas em seus textos, incluindo a relação de angústia e sofrimento que ele manteve com o cristianismo – herança de um pai extremamente religioso, que cultuava a maneira exacerbada os rígidos princípios do protestantismo dinamarquês, religião de Estado. Sétimo filho de um casamento que já durava muitos anos – nasceu em 1813, quando o pai, rico comerciante de Copenhague, tinha 56 e a mãe 44 –, chamava a si mesmo de "filho da velhice" e teria seguido a carreira de pastor caso não houvesse se revelado um estudante indisciplinado e boêmio. Trocou a Universidade de Copenhague, onde entrara em 1830 para estudar filosofia e teologia, pelos cafés da cidade, os teatros, a vida social. Foi só em 1837, com a morte do pai e o relacionamento com Regina Oslen (de quem se tornaria noivo em 1840), que sua vida mudou. O noivado, em particular, exerceria uma influência decisiva em sua obra. A partir daí seus textos tornaram-se mais profundos e seu pensamento, mais religioso. Também em 1840 ele conclui o curso de teologia, e um ano depois apresentava "Sobre o Conceito de Ironia", sua tese de doutorado. Esse é o momento da segunda grande mudança em sua vida. Em vez de pastor e pai de família, Kierkegaard escolheu a solidão. Para ele, essa era a única maneira de vivenciar sua fé. Rompido o noivado, viajou, ainda em 1841, para a Alemanha. A crise vivida por um homem que, ao optar pelo compromisso radical com a transcendência, descobre a necessidade da solidão e do distanciamento mundano, está em Diários. Na Alemanha, foi aluno de Schelling e esboça alguns de seus textos mais importantes. Volta a Copenhague em 1842, e em 1843 publica A Alternativa, Temor e Tremor e A Repetição. Em 1844 saem Migalhas Filosóficas e O Conceito de Angústia. Um ano depois, é editado As Etapas no Caminho da Vida e, em 1846, o Post-scriptum a Migalhas Filosóficas. A maior parte desses textos constitui uma tentativa de explicar a Regina, e a ele mesmo, os paradoxos da existência religiosa.

Kierkegaard elabora seu pensamento a partir do exame concreto do homem religioso historicamente situado. Assim, a filosofia assume, a um só tempo, o caráter socrático do autoconhecimento e o esclarecimento reflexivo da posição do indivíduo diante da verdade cristã. Polemista por excelência, Kierkegaard criticou a Igreja oficial da Dinamarca, com a qual travou um debate acirrado, e foi execrado pelo semanário satírico O Corsário, de Copenhague. Kierkegaard censurou a Igreja por ser um refúgio para os tímidos e os complacentes. Menosprezou os ministros religiosos de sua época porque se negavam a crer na Igreja militante, e porque, segundo ele, eram falsos “buscadores”, que buscavam a placidez e posições influentes na sociedade mais que a salvação pelo sofrimento. “Os ensinamentos de Cristo diluíram-se tanto e degradaram a tal ponto que a Igreja aboliu praticamente o cristianismo em nome de Cristo. Por que não vemos já a contradição existente entre o caráter do cristianismo como luta e a essência do Estado como entidade quantitativa? Por que não vemos que o Estado paga a seus funcionários – os ministros do culto – para que destruam o cristianismo?” Walter Lowrie comenta sobre Kierkegaard: “ele é perfeitamente capaz de nos convencer de que não somos cristãos e talvez nos faça ver com clareza que não desejamos chegar a ser cristãos”. Em 1849, publicou Doença Mortal e, em 1850, Escola do Cristianismo, em que analisa a deterioração do sentimento religioso.

Por Lucas Rafael Chianello

Um comentário: