sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Guerra dos Mascates 1710/11

Em 1630 os batavos invadiram o nordeste brasileiro. Nada mudou radicalmente na região, pois os “holandeses” estavam interessados no comércio do açúcar e não na sua produção ou nos engenhos.

O problema foi que, Recife, que até então era apenas um distrito de Olinda, passou a ser a capital da província, até 1654, quando os batavos saem do Brasil.

Olinda era uma cidade aonde permaneceu os latifundiários. Já em Recife, cresceu uma pequena burguesia portuguesa, chamados de mascates, e que a cada dia se enriqueciam mais.

Assim, Olinda se firmava como a cidade dos senhores de engenho e Recife como a cidade dos mascates – cidades rivais, uma espécie de rivalidade entre “nobreza” e “burguesia” aparentes, pois não podemos afirmar que no Brasil colônia havia uma nobreza e burguesia propriamente dita.

Devido o fato dos batavos produzirem açúcar em colônias das Antilhas, o preço do produto sofre queda no mercado internacional. Isso levou muitos senhores de engenho a contrair empréstimos dos mascates. A grosso modo, era o enriquecimento de uma pequena burguesia portuguesa as custas do empobrecimento de latifundiários brasileiros.

Para piorar a situação, esses “grandes senhores” também tinham problemas com o fisco. Para facilitar a cobrança, a Coroa vendia o direito de cobrança de impostos aos arrematadores, que pagavam, em muitos casos, a dívida com abatimento e depois lucrava com os juros dos devedores. Quem eram esses arrematadores? Os mascates.

A rivalidade ganha corpo e em 1710/11 acontece a Guerra dos Mascates. O poder econômico de Recife consegue instalar uma câmara municipal, que é uma espécie de prefeitura no período. Os senhores de terras pegam em armas, derrubam o pelourinho de Recife e chegam a ferir o governador de Pernambuco, que busca refúgio na Bahia.

Chiavenato salienta que a Guerra dos Mascates foi equivocadamente apresentada oficialmente como guerra nativista, erro grotesco, visto que os mascates eram na sua maioria, comerciantes portugueses.

Os mascates desejavam que a capital fosse definitivamente para Recife, afinal, aliar poder econômico com poder político é sacramentar o domínio. Já haviam mascates eleitos vereadores e até conseguiram aprovar leis que permitiam a execução judicial de senhores de engenho devedores.

Para preservar suas posses, a Guerra dos Mascates, era por parte dos latifundiários, única chance de reverter um quadro quase certo de falência da mal formada aristocracia olindense.

O latifundiário Bernardo Vieira de Melo chegou a propor que Olinda se tornasse uma república independente, mas para tal precisava de muitas coisas inatingíveis, afinal, não se proclama uma república apenas com desejo.

No final da história, os senhores de terras de Olinda perderam a guerra, contudo, permaneceram com suas posses. Na realidade, foi um acordo. Olinda desistiu da guerra em troca de não terem a execução de suas propriedades e engenhos e o perdão das dívidas.

Também , o capitão-mor deveria ficar seis meses em Olinda e seis meses em Recife. Porém, em 1827 Recife tornou definitivamente a capital da província.

Já o povo, continuou sendo povo. A Guerra dos Mascates foi um conflito por poder local, mais por poder político do que econômico. Não havia reivindicações sociais. Pobre continuou sendo pobre, escravo permaneceu escravo. Índios continuaram na mesma situação. Senhores de engenho permaneceram latifundiários e mascates continuaram com suas atividades.

Prof. Yuri Almeida




Leia "As lutas do povo brasileiro:
do descobrimento a Canudos"
de Júlio José Chiavenato, da Editora Polêmica.

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