sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Achado escrito inédito de Karl Marx

O artigo “Mercado sem desenvolvimento: a causa da crise” é um dos achados do projeto MEGA – Marx-Engels GesamtAusgabe. A partir dos arquivos de Karl Marx, o MEGA está organizando a imensa obra ainda inédita do filósofo alemão: 114 volumes, o último dos quais será publicado em 2020. O texto em questão, jamais lido no Capital, parece ter sido escrito hoje. Deve-se sua revelação ao jornal "La Repubblica", que publicou o inédito artigo de Marx no domingo (08/01). A tradução é de Moisés Sbardelotto para o "IHU Online"

Mercado sem desenvolvimento: a causa da crise
Por Karl Marx

A enorme quantidade e variedade de mercadorias disponíveis no mercado não dependem apenas da quantidade e da variedade de produtos — mas são, em parte, determinadas pela entidade da parte de produtos produzidos como mercadorias, que deverão, portanto, ser inseridos no mercado para a venda na qualidade de mercadorias.

A grandeza dessa parte das mercadorias vai depender, por sua vez, do grau de desenvolvimento do modo de produção capitalista — que produz os seus próprios produtos apenas como mercadorias — e do grau em que tal modo de produção domina em todas as esferas da produção.


Deriva daí um grande desequilíbrio no intercâmbio entre países capitalistas desenvolvidos, como a Inglaterra, por exemplo, e países como a Índia ou a China. Esse desequilíbrio é uma das causas da crise.

Causa totalmente negligenciada pelos burros que se contentam em estudar a fase do intercâmbio de um produto por outro produto e que esquecem que o produto não é, portanto, em caso algum, mercadoria intercambiável enquanto tal. Isso constitui também a pedra no sapato que leva os ingleses, dentre outros, a querer subverter o modo de produção tradicional existente na China, na Índia, etc., para transformá-lo em uma produção de mercadorias e, em particular, em uma produção baseada na divisão internacional do trabalho (ou seja, na forma de produção capitalista).

Eles conseguem, em parte, esse intento, por exemplo, quando prejudicam os fiadores de lã ou de algodão vendendo seus produtos a um preço inferior ou arruinar o seu modo de produção tradicional, que não é capaz de competir com o modo de produção capitalista ou com o modo capitalista de inserir as mercadorias no mercado.

Embora o capital produtivo, por sua própria natureza, esteja disponível no mercado, isto é, oferecido à venda, o capitalista pode (por um período de tempo longo ou curto, de acordo com a natureza das mercadorias) mantê-lo longe do mercado se as condições não lhe forem favoráveis ou com o fim de especular, ou outro. O capitalista pode subtrair o capital produtivo do mercado das mercadorias, mas, em um momento posterior, será obrigado a reinseri-lo. Isso não tem efeitos sobre a definição do conceito, mas é importante para a observação da concorrência.

A esfera da circulação das mercadorias, o mercado, é, enquanto tal, diferente também fisicamente da esfera da produção, exatamente como são diferentes temporalmente o processo de circulação e o efetivo processo de produção. As mercadorias agora prontas ficam depositadas nos armazéns e nos depósitos dos capitalistas que as produziram (exceto no caso de serem vendidas diretamente), quase sempre só de modo passageiro, antes de serem expedidas para outros mercados.

Para as mercadorias, trata-se de uma estação de preparação a partir da qual serão inseridas na efetiva esfera de circulação, exatamente como os fatores da produção disponíveis permanecem à espera, em uma fase preparatória, antes de serem transportados para o efetivo processo de produção.

A distância física entre os mercados (considerados do ponto de vista da sua localização) e o lugar do processo de produção das mercadorias dentro de um mesmo país, e sucessivamente fora dele, constitui um elemento importante, porque é justamente a produção capitalista que faz com que, para uma boa parte dos seus produtos, o mercado seja constituído pelo mercado mundial. (As mercadorias também podem ser adquiridas para serem retiradas imediatamente do mercado, mas esse elemento deveria ser examinado em outros lugares, assim como a menção anterior às mercadorias que os produtores mantêm longe do mercado).

Consequentemente, é preciso que o mercado se expanda continuamente. Além disso, em todas as esferas individuais da produção, todo capitalista produz de acordo com o capital que lhe é oferecido, independentemente do que fizerem os outros capitalistas. No entanto, não será o seu produto, mas sim o produto total do capital investido nessa particular esfera de produção que irá constituir o capital produtivo, que oferece à venda esta e qualquer outra esfera individual de produção.

É um dado empírico que, embora a dilatação da produção capitalista leve a um incremento, a uma multiplicação do número de esferas de produção, ou seja, de esferas de investimento do capital, nos países de produção capitalista avançada, essa variação jamais mantêm o mesmo ritmo que o acúmulo do próprio capital.

Fonte:
Fundação Maurício Grabois: http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=8&id_noticia=7827> Acesso em 13 jan. 2012.

11 comentários:

  1. Tinha lido sobre isso no blog do Nassif e o mais fantástico é que ainda existem vários escritos inéditos de Marx e esse que estão publicando agora parece ter sido feito sob medida pro atual momento do capitalismo. N a faculdade eu e outros amigos brincávamos que Marx era Profeta!!!

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    1. Com certeza Hudson. A atualidade nos escritos de Marx é porque apesar da metamorfose constante, continuamos no capitalismo.

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    2. acho q deviamos e devemos aprender muito com esses escritos fantastico............

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    3. O grande problema disto é a nossa visão capitalista q centra-se apenas no interesse próprio sem levar em consideração o factores determinantes do mercado...........

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  2. bichinho feio nunca vi mas feio!!

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  3. penso que este sistema capitalista selvagem,somente seria eterno se nao vivessemos em um planeta finito.mas como o planeta e finito e seus recursos esgotaveis.este sistema capitalista esta fardado ao fracasso.enquanto o homem for este posso de orgulho e pensar da forma que pensa,que e um semi deus.e nao que ele e uma simples engrenagem neste imenso contexto.estaremos condenados por nos mesmos.

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  4. A primeira aula de economia é exatamente sobre a escassez de recursos, se o sistema capitalista que é o resultado de um processo histórico de sistemas economicos anteriores fosse inviável devido a finitude da terra (de recursos) o capitalismo hoje não existiria. Será que Marx era tão burro assim?
    Os comuno-socialistas teimam em dizer que o capitalismo exaure a terra é um sistema tirano, mas por que nas economias planificadas socilistas a primeira baixa que temos notícia é a de oferta de produtos?

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  5. Se Marx sentado em sua escrivania podia prever tudo e todos os comportamentos como ele não previu uma simples queda de um muro (não me venha falar que é por culpa do capilaismo).
    1. Se o capitalismo era é um sitema errado e devia ser combatido, teve na época da revolução russa toda a chance de ter sido feito.
    2. Se a marginalidade em que se tornou a Russia, China e outros grandes países social-comunistas não fosse significativa, porque ela não se alastrou para outros países?

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    1. Fico pasmo como tem gente que não conhece a real história, então faz postagem dizendo besteira.
      A União Soviética pagou caro para nos livra do nazismo. Sem a Rússia, que perdeu 20 milhões de soviéticos, gastou muito com a indústria pesada e não teve a cooperação do bloco capitalista para recuperar sua economia e fazer aquilo com regime socialista deve fazer pelo povo. Assim foi fácil jogar o povo e mundo contra o regime e derrubar o sistema por visão equivocada e atitude covarde de Gorbachove.

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  6. Muito devemos a esses estudos. Sem o pensamento e os textos de Marx, o pensamento e doutrina capitalista nos teriam dominado de vez. A exploração, opressão, expropriação do capitalismo seriam coisas normais se o marxismo não nos mostrasse o outro lado da questão.

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  7. Fiz uma pós em sociologia política, e, mesmo não gostando muito de ler Marx, ao abordar um problema sociológico em minha monografia, não conseguir me esquivar das ideias do Marx. Gostando ou não, esse cara sacou muito detalhe concreto intrinsecamente ligado à problemas sociais desde a ruptura histórica chamada "modernidade". É interessante lermos as obras do Marx, acompanhando um bom livro de história moderna. Parabéns pelo posto Prof. Yuri.

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