sábado, 19 de dezembro de 2009

Bárbaros


O termo “bárbaro” era usado pelos romanos para todos os povos que falavam uma língua incompreensível, cuja civilização era ainda primitiva, não pertenciam à civilização romana, vivendo além das fronteiras do Império, e se mostravam rebeldes à sua cultura.

Os cinco principais grupos bárbaros eram: os celtas (povos de língua indo-européia, que habitavam principalmente as ilhas Britânicas); os germanos (também indo-europeus que povoavam a Escandinávia e a Germânia); os eslavos (igualmente indo-europeus, estabelecidos nas planícies da Rússia atual); os árabes (povos de língua semita, que ocupavam a Península Arábica); os berberes (povoavam o norte da África) e os tártaro-mongóis (provenientes das estepes da Ásia Central).

No final no séc. IV teve início a grande ofensiva bárbara que quebrou a resistência imperial. Hábeis no manejo de armas, os germanos foram responsáveis pelas primeiras invasões e os que mais se destacaram nestas. Isolados da cultura mediterrânea em suas terras na Europa Setentrional, não haviam deixado ainda a agricultura seminômade e o pastoreio. Viviam em pequenas aldeias, dedicavam-se à agricultura, à criação de animais, à caça e à pesca; possuíam um artesanato rudimentar e praticavam o comércio de troca de produtos. A união de várias aldeias formava uma tribo, cujo chefe, o Koenig (rei), tinha por principal função a guerra. Nos períodos de paz, seu poder era limitado por um Conselho, constituído pelos chefes das aldeias. Os germanos eram dotados de alta estatura, olhos azuis e cabelos louros. Vestiam-se com peles de animais e tecidos grosseiros; moravam em cabanas rústicas. Sua religião era politeísta com os deuses ligados às forças da natureza. Não conhecendo a escrita, estavam ainda na pré-história.

Os principais povos germânicos foram: os francos, estabelecidos nas margens setentrionais do Reno; os saxões, localizados às margens do Mar do Norte; os vândalos, estabelecidos às margens do Mar Báltico; os visigodos, ocuparam as regiões do baixo Danúbio; os ostrogodos, dominavam as terras localizadas ao norte do Mar Negro; os suevos, encontrados às margens do rio Elba; os anglos; os lombardos, localizados na região atravessada pelo rio Oder.

Os godos eram os mais civilizados dos germanos, pelo contado constante mantido com o mundo romano. Desde muitos séculos os germanos constituíam um perigo para os romanos. No séc. I a.C., Mário teve que combate-los e Júlio César enfrentá-los para fazer do Reno a fronteira da Gália. Augusto pretendeu conquistar a Germânia, a fim de resolver de maneira radical o grande problema, mas fracassou, fazendo com que os imperadores que o sucederam adotassem uma política defensiva, limitando-se a consolidar a fronteira do Reno e do Danúbio, através da construção dos limes (muralhas). Tais medidas não impediram as infiltrações pacíficas dos germanos no mundo romano, na qualidade de escravos, colonos, soldados; em certos casos, tribos inteiras obtinham permissão de se fixarem nas terras do império, como federados. Assim o mundo romano sofreu uma lenta barbarização, antes mesmo das grandes migrações do séc. IV. Tal fato contribuiu para debilitar a própria defesa do Império, quando no final daquele século começaram as invasões violentas, que haviam de se prolongar por mais de cem anos.

O deslocamento das tribos germânicas, do norte para o sul da Europa, é em grande parte explicado pelo crescimento de sua população, fato que levou aqueles povos a procurar territórios com terra fértil e um melhor clima. A principal causa das grandes invasões sobre o mundo romano foi o deslocamento para a Europa dos povos tártaro-mongóis (dos quais destacaram-se os hunos), provenientes da Ásia Central. Os godos foram os primeiros a sofrer o impacto dos hunos: os ostrogodos submeteram-se, mas os visigodos atravessaram o Danúbio (376 d.C.) em busca de proteção. Os romanos lhes concederam terras nos Bálcãs em troca de serviços militares. Em 378 d.C. os visigodos revoltaram-se e na Batalha de Andrinopla derrotaram os romanos. Teodósio, hábil político, aceitou-os como federados instalando-os na Dácia, dando-lhes autonomia e admitindo seus chefes em sua própria corte. Alguns anos após sua morte, os godos ocupam o Império do Oriente. Para afastá-los de Constantinopla, os romanos têm que lhes pagar forte tributo. Em 410 d.C., sob a liderança de Alarico, os visigodos abandonam os Bálcãs e invadem a Itália, onde apoderam-se de Roma. Após a morte de Alarico, sob o comando de Ataulfo, os visigodos abandonam a Itália devastada e invadem a Gália. Em 413 d.C. e não recebendo os víveres prometidos pelos romanos, devastam toda a região. A Aquitânia e o norte da Península Ibérica são ocupados em 414 d.C. Neste período mais de cem mil germanos invadiram o Império pelo norte, cruzando o Reno e os Alpes: suevos, alanos e vândalos arrasaram tudo que encontravam no caminho, devastaram a Gália e passaram à Península Ibérica, onde enfrentaram os visigodos.

Os vândalos ocuparam a Andaluzia e passaram à África, tomando Cartago e as ilhas do Mar Tirreno. Senhores de poderosa frota, devastaram e saquearam Roma em 455 d.C. A grande invasão de 406 d.C. possibilitou o estabelecimento de várias tribos germânicas em regiões desguarnecidas do Ocidente Romano: os anglos e os saxões estabeleceram-se na Inglaterra, os burgúndios ocuparam as margens do Saona, os alamanos se radicaram na Alsácia. Neste momento, os hunos, após terem destruído o “Império” dos ostrogodos, marcharam para o oeste, estabelecendo-se, provisoriamente, na região do Danúbio, tomando toda a região, de onde se voltaram para o ocidente em 450 d.C. À frente de um numeroso exército, Átila destrói Metz, Reims, Troyes, partindo para o sul, onde ocupa Orleans, na porta meridional da Gália.

Alanos, burgúndios, francos e visigodos, sob a liderança de Aécio e Teodorico, defendem o Ocidente. Este exército bárbaro-romanizado retoma Orleans e força Átila a se voltar para o noroeste. A partir de então, os bárbaros tomam plena consciência de sua força no Baixo Império: enquanto o governo imperial agoniza no ocidente, eles o sucedem. Em 476 d.C. Odoacro, chefe de mercenários bárbaros, a serviço de Rômulo Augústulo, imperador de Roma, depõe o próprio imperador, solicitando do governo de Constantinopla a autorização de governar a Itália. Entretanto, quem dominou a Itália foi Teodorico, chefe dos ostrogodos, que à frente de seu povo estabeleceu-se na Península e fundou um novo reino em 493 d.C. Em princípios do séc. VI o que fora o Império Romano do Ocidente tornou-se um mosaico de pequenos reinos bárbaros: o dos visigodos, na Península Ibérica; o dos ostrogodos, na Itália; o dos vândalos, no noroeste da África; o dos francos, na Gália; os dos anglo-saxões na Inglaterra; o dos burgúndios, na média e alta bacia do Rio Ródano.

As últimas migrações dos germanos verificaram-se na segunda metade do séc. VI, quando os lombardos, pressionados pelos ávaros (povos das estepes asiáticas), buscam refúgio na Itália. Conduzidos por Alboim, os invasores dominam as cidades do norte da Itália, tornando-se senhores da Planície do Pó e da Toscana em 576 d.C.; infiltraram-se mais tarde para o sul, tomando as regiões de Espoleto e Benavento; em 602 d.C. conquistam Pádua; em 640 d.C. Gênova; em 675 d.C. Tarento; formaram assim o Reino Lombardo.

As conseqüências das migrações bárbaras e seu estabelecimento no Ocidente foram profundas. A ruptura da paz romana teve resultados desastrosos nos planos político, social, econômico e cultural. Na ordem política, as migrações provocaram a destruição do Império Romano do Ocidente. Sob o ponto de vista econômico, as transformações também foram consideráveis: as guerras contínuas e a falta de segurança provocaram a paralisação do comércio e declínio das cidades com a fuga da população para o campo; o uso da moeda tornou-se raro; ocorre a volta à economia agrícola. Sob o ponto de vista cultural, a regressão foi sensível: embora vitoriosos, os guerreiros germanos custaram a assimilar a civilização romana. Constituíram a classe dominante, formando uma aristocracia militar, que não podia adaptar-se à vida intelectual e artística romana. Imitavam a forma de vida dos vencidos, embora modificada pela contribuição devida as suas respectivas culturas.

Pouco a pouco se foi realizando nos reinos bárbaros uma ressurreição dos costumes e tradições romanas. Ao lado da civilização romana que tendia a renascer, subsistiram, sobretudo durante os primeiros séculos da Idade Média, os costumes dos conquistadores. Difundiu-se no Ocidente, um novo tipo de civilização, com elementos herdados de Roma e outros provenientes dos germanos; a maior ou menor romanização dependia da profundidade da ocupação anteriormente realizada por Roma. A Igreja, através da conversão, contribuirá para a aproximação e fusão das populações do Ocidente. Ela será a herdeira da civilização latina; em dois séculos de constantes esforços imporá a todo o Ocidente a unidade católica e a língua latina, dois elementos fundamentais da civilização romana, herdados pelos bárbaros.

A maioria dos reinos bárbaros teve vida curta.

Fontes

BIBLIOTECA DO ESTUDANTE MODERNO. Difusão Cultural do Livro. Volume 3. História Geral. Bloco 5. Capítulo 2. Págs. 16 a 18. São Paulo: 2000.
ENCICLOPÉDIA DELTA UNIVERSAL. Volume 2. Págs. 1150 e 1151. Editora Delta S.A. Rio de Janeiro: 1980.

ENCICLOPÉDIA BARSA. Encyclopaedia Britannica Editôres. Volume 3. Págs. 35 a 38. Rio de Janeiro, São Paulo: 1971.


Por Nilton Cezar Ribeiro

6 comentários:

  1. Muito obrigada
    Esta materia serviu de muita ajuda no meu trabalho sobre bárbaros
    xau

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  2. uau,Grande,perfeito,sensacional Explicaçao,Vlw Ajudo mt

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  3. Quero saber de que os bárbaros suevos se alimentavam...

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  4. Os germânicos como um todo, por serem povos agropastoris, possuíam uma alimentação rica em proteínas, advinda principalmente dos cereais, da carne vermelha e do pescado.

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