Com a Lei 10.639 vieram inúmeras discussões sobre o
ensino da História e Cultura Africana no Brasil.
Os contrários à lei, os que a
acusaram de ser arbitrária, alegavam que a História Africana já era ensinada em
sala de aula.
Entretanto, é sabido que o
conteúdo sobre o continente africano sempre foi tratado de forma rasa pelos
livros didáticos, se considerarmos que “desde o final da década de 90 estes
recursos didáticos (...) vêm se tornando um objeto fundamental em sala de aula
(...)” (ALVES e BARBOSA,2012,p.2), podemos afirmar que antes do surgimento da
lei o estudo sobre a África era praticamente inexistente.
É importante entender a
necessidade da lei e das modificações por ela realizadas. A educação formal era
o único caminho de melhoria para uma população negra excluída da sociedade no
pós abolição, entretanto como afirma Santo (apud ALVES e BARBOSA,2012,p.3 )
“percebeu-se que essa educação era excludente e eurocêntrica, então os
movimentos negros passaram a reivindicar modificações educacionais que
incluíssem a história africana, sua cultura e seu legado para a formação da
cultura brasileira”.
Isso ainda, segundo Santos,
constou na declaração do final do I Congresso Negro Brasileiro, que foi
promovido pelo Teatro Experimental Negro em 1950.
Mesmo com a lei e as mudanças
perceptíveis no material didático, ainda se faz necessário uma reconstrução da
imagem do continente africano, junto aos professores que foram ensinados dentro
de moldes antigos que não tiveram essa temática em seus estudos de graduação e
que estão em sala de aula formando novos cidadãos.
Afinal o que sabemos sobre a
África
A primeira questão que devemos
levantar é nossa própria ignorância sobre o assunto, o conhecimento que temos
vem basicamente de duas fontes: livros didáticos e mídia.
Segundo Waldman (2007) uma
prioridades é desvendar “ realidades encobertas por mitos, ficções e imagens
fantasiosas.” Não que isso não ocorra
com outras regiões do mundo, contudo “a África mais do que qualquer outro continente,
terminou encoberta por um véu de preconceitos que ainda hoje marcam a percepção
de sua realidade”.
Em Geografia sabíamos pouco,
afinal normalmente este era o último tema do livro e acabava extremamente
resumido, quando não totalmente esquecido. Mesmo quando ensinado isso acontecia
dentro de uma visão eurocêntrica, mostrando como aspectos positivos os recursos
minerais e uma fauna exótica. Entretanto, de acordo com a OLIVA (2005) os
pontos negativos se sobressaem e somos
inundados com “imagens chocantes de um mundo africano em agonia, da AIDS que se
alastra, da fome que esmaga, das etnias que se enfrentam com grande violência.”
Em nossa época, os meios de
comunicação são atores importantes, responsáveis pela construção de imagens que
eles mesmos tornam públicas. Sendo assim a mídia pode condicionar fortemente as
ideias e valores sobre a África que são compartilhados pelos grupos sociais (ou
diferentes públicos) que compõe a sociedade brasileira (SOARES, 2009).
Como a grande parte da população
só tem acesso aos meios de comunicação em massa e aos livros didáticos, são
essas as referências que a grande parte da população tem, contribuindo para um
olhar preconceituoso, não só em relação aos africanos, mas também ao
afrodescendentes.
Considerando que, independente da
profissão, absolutamente todos passam pela escola, e é mais que um dever
quebrarmos esse ciclo de informações tendenciosas.
Enquanto professores, de história
principalmente, é nosso dever resgatar os fatos e analisá-los dentro de uma
compreensão do presente, por si só já se faz importante o estudo de História
Africana, assim como outras civilizações que contribuíram para a construção da
sociedade contemporânea e se pensarmos na forma racista de como essa história
foi escondida e deturpada, nossa obrigação é duplamente mais importante.
Além disso, o afro-pessimismo não
é só um problema de como vemos o continente africano, mas também em decisões
politicas. Isso serve de apoio a políticas estrangeiras que tentam usar
questões sociais para dominar economicamente, sob a alegação de “empregos e
melhoria”.
Se pretendemos formar cidadãos
críticos e atuantes devemos levá-los a refletir as notícias e politicas
existentes atualmente, enfim, se a história é uma forma de entender o presente
e mudar o futuro temos que buscar desmistificar o que achamos que sabemos.
Atualmente inúmeros materiais são
produzidos para auxiliar os professores a se adaptarem as novas exigências da
legislação. Existe também uma constante vigilância sobre os materiais usados em
sala de aula e a mídia em geral.
Debates, análises de livros, tudo
isso contribui para a melhoria do ensino, mas de nada valerá se não mudarmos
nossa forma de pensar.
Buscar outras fontes, questionar
o que a mídia impõe e principalmente selecionar cuidadosamente o material
didático são forma de reavaliarmos nossos conhecimentos, trabalhando de forma
imparcial não só este, mas qualquer assunto.
Assim, fica claro que cabe a nós
professores mostrar desde a Educação Infantil a diversidade da cultura
africana, sua inegável contribuição para o mundo e principalmente que assim
como o Brasil, os países do continente africano estão prosperando e vencendo as
adversidades é a única forma de alcançarmos esse objetivo é repensando nosso
conhecimento.
Referências
ALVES, Márcia de Albuquerque; BARBOSA, Vilma de
Lurdes. A África na Literatura didática de História a partir da Lei
10.639/2003. João Pessoa, Ago. 2012. Disponível em:
.
Acesso em: 16 nov. 2012.
OLIVA,
Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares:
Representações e imprecisões na literatura didática. Brasília, 2005. Disponível
em: . Acesso em: 16
nov. 2012.
SERRANO, Carlos;WALDMAN, Maurício. Memória
D'África: A temática Africana em sala de Aula. São Paulo:Cortez,2007,327 p.
SOARES, Astréia; BARBOSA, Luiz Henrique; CARVALHO,
Vanessa de. África como notícia. Salvador, Mai. 2009. Disponível em
.Acesso em: 16 nov. 2012.
ZAGO, Álvaro de Barros. A África no livro
didático de Geografia. São Paulo, Ago. 2011. Disponível
em:
. Acesso em: 16 nov. 2012.
Por prof. Dayane Baraldi
Great post.
ResponderExcluirLMT MARS-L PDW
I love reading historical. Thank you for this another challenge.
ResponderExcluirIndiana Bowed Wall